A fluorose dentária é uma patologia que afeta os dentes e que se desenvolve durante a sua formação. Esta afeção é desencadeada pela presença em excesso de fluoreto (ou flúor), e manifesta-se ao nível do esmalte dentário na forma de manchas e/ou defeitos anatômicos.
É um problema que se evidencia logo no bebé ou em crianças (fluorose infantil), pois é no decorrer desta faixa etária que se dá a formação e desenvolvimento dos primeiros dentes, quer sejam dentes de leite (dentes decíduos), quer sejam dentes definitivos. No entanto, é um problema que continua a evidenciar-se em adulto, ou seja, é independente da faixa etária.
Nos casos em que se verifica fluorose na criança, as manchas características (ver em sinais e sintomas) mantêm-se visíveis com o passar do tempo, caso não seja efetuado qualquer tipo de intervenção médico dentária. Acresce que o surgimento deste problema ocorre durante o desenvolvimento da estrutura dentária (Amelogênese), ou seja, antes ainda da erupção dos dentes, podendo afetar tanto a dentição decídua como a permanente, como já foi referido.
Fluorose dentária – sinais e sintomas
Um dos sinais mais evidentes e visíveis da fluorose dentária são a presença de manchas nos dentes que normalmente apresentam uma forma irregular e podem ter várias tonalidades consoante o seu grau de gravidade e intensidade.
O aspeto das manchas que alteram a cor do esmalte pode variar entre a cor branca opaca e apenas alguns traços brancos, isto quando estamos perante um caso menos acentuado de fluorose dentária. Porém, se a situação for de carácter mais grave, as manchas que aparecem na dentição apresentam já uma tonalidade mais escura, variando entre tonalidades acastanhadas e/ou o marrom.
Nos casos mais severos, poderá mesmo haver irregularidades e perda da estrutura dentária, pois a fluorose torna o esmalte hipomineralizado, mais poroso e friável, e como tal, mais fácil de se desgastar, podendo em alguns casos surgir mesmo sensibilidade dentária e/ou dor de dentes.
Estas alterações comprometem a estética dentária e podem interferir na autoestima do indivíduo, principalmente nos casos mais severos.
Fluorose dentária – causas
Como principais causas para a fluorose dentária podemos apontar o consumo de água excessivamente fluoretada, ou certos alimentos e produtos industrializados, juntamente com a ingestão prolongada de algum tipo de gotas ou comprimidos contendo flúor. Pode ainda estar associado com a ingestão excessiva de dentífricos fluoretados durante a escovagem dentária, o que por vezes acontece em crianças, quer seja por dificuldades no controlo adequado da deglutição, quer seja propositadamente por gostarem do sabor da pasta. O mesmo pode acontecer com elixires à base de flúor.
Uma outra situação que pode ocorrer, embora mais raramente, é decorrente da utilização descuidada, por parte do dentista, de produtos contendo flúor, durante os tratamentos dentários.
De ressalvar contudo que a escovagem diária e frequente ao longo do dia não constitui motivo suficiente para o desenvolvimento de fluorose. O que poderá ser realmente motivo para o desenvolvimento desta patologia é a quantidade excessiva de ingestão prolongada do flúor contido na pasta dentífrica usada, que é variável, sendo que a quantidade de flúor existente nas diversas pastas dentífricas deverá ser a adequada à faixa etária correspondente. Veja mais informação em prevenção.
De referir que as causas apresentadas são válidas apenas nas idades em que decorre a formação dos dentes, ou seja, em criança.
A fluorose dentária é contagiosa?
A fluorose dentária não é contagiosa ou transmissível, ou seja, a fluorose dentária não se “pega” ou “passa” de pessoa para pessoa, como por exemplo, através do beijo ou partilha de alimentos.
No entanto, através do beijo, da partilha de alimentos e talheres, entre outros atos, podem ser transmitidas bactérias potencialmente criogénicas. Contudo, estas patologias não estão relacionadas com a fluorose dentária.
Fluorose dentária tem cura?
A fluorose dentária não desaparece com o passar da idade, mas existem tratamentos dentários, que permitem a ocultação, diminuição, ou até mesmo a extinção das manchas que aparecem no esmalte dos dentes, melhorando desta forma a estética dentária.
O diagnóstico da fluorose dentária é realizado pelo médico dentista através da observação clínica, sendo que a anamnese ou história clínica do paciente, poderá ajudar na sustentação desse mesmo diagnóstico.
Antes de ser iniciado algum tratamento, é necessário confirmar que o dente não apresenta qualquer outro tipo de patologia, nomeadamente cárie dentária, sendo que neste caso se torna imperioso o seu tratamento prévio.
Fluorose dentária – tratamento
Após o diagnóstico, o plano de tratamento deve ser instituído pelo médico dentista. O tratamento eleito deve levar em consideração a severidade do problema, a idade do paciente, o número de dentes afetados, entre outros fatores.
Nos casos de fluorose muito leve, em que as manchas ou linhas esbranquiçadas quase não se dão conta, ou que ficam bastante disfarçadas com a umidade nos dentes, não se torna propriamente necessária qualquer intervenção, a menos que mesmo assim o paciente a pretenda fazer, regra geral por razões estéticas.
Um dos tratamentos de eleição é a microabrasão, um método muito pouco invasivo, pois produz um desgaste mínimo da superfície dos dentes, permitindo tirar apenas a parte superficial afetada. Complementarmente ou não, o tratamento pode também passar por branquear (clarear) ou remover, com químicos, a camada mais externa do dente, por forma a homogeneizar a cor preservando assim a estrutura dentária. Este procedimento de branqueamento ou clareamento dos dentes pode compensar os resultados não conseguidos primariamente pela microabrasão.
Por sua vez, se a fluorose dentária for muito acentuada, é necessário um tratamento mais invasivo, passando por exemplo pela dentisteria ou mesmo pela prótese fixa, através da confecção e aplicação de facetas ou coroas dentárias, que serão cimentadas nos dentes, cobrindo de forma parcial (facetas) ou total (coroas) a superfície dos mesmos. No entanto, estas situações já implicam um maior desgaste da superfície dentária, ou seja, são tratamentos menos conservadores que os descritos anteriormente.
As facetas dentárias são uma espécie de “capa” em porcelana (cerâmica) ou em resina composta (acrílicas) para os dentes.
Prevenção da fluorose dentária
Obviamente que à semelhança de todas as patologias, a prevenção é de enorme importância. No caso em concreto, a forma mais viável de evitar o aparecimento deste problema oral passa pelo cumprimento de diversas regras a respeitar pelas crianças, mas, essencialmente, pelos pais que são quem ensinam, supervisionam e ajudam na prática dos bons hábitos de higiene oral.
É óbvio que os pais devem incutir aos filhos o hábito de escovar os dentes. A utilização de produtos dentífricos (pasta dos dentes e elixires) apropriados a cada faixa etária é uma conduta muito importante a ter em consideração.
Não é indicado o uso da pasta dentífrica de adultos por crianças, pois existem dentífricos com as dosagens apropriadas de flúor para uso em idade infantil e juvenil. Acresce que alguns dentífricos desenvolvidos especificamente para as crianças, têm sabores muito agradáveis, o que se por um lado ajuda a estimular a prática de higiene oral, por outro lado “convida” a engolir o produto, aumentando assim o risco de fluorose. A criança deve ser educada a lavar a boca com água no final das escovagens, pois se tal não o fizer a constante deglutição dos excedentes de pasta com flúor que fica na boca por longos períodos de tempo pode desencadear o problema.
Neste sentido, torna-se muito importante a supervisão dos pais principalmente nos primeiros anos de vida.
O uso de dentífricos fluoretados pode acarretar em última análise o aparecimento de fluorose dentária nos casos em que existe uma utilização abusiva do flúor. No entanto, o flúor desempenha um papel muito importante na prevenção e controlo da cárie dentária, ao inibir o processo de desmineralização e promover a remineralização do esmalte dos dentes.
Caso opte pela utilização de produtos fluoretados com menos concentração de flúor do que a aconselhada, a proteção dentária será menor, aumentando assim a suscetibilidade à cárie, entre outras patologias. Se, por sua vez, optar por produtos sem qualquer concentração de flúor, deve, como meio de controlo mais ativo, aumentar o número de consultas regulares com o seu médico dentista.
O uso de água para lavar os dentes deve possuir também níveis de flúor adequados, pois nos casos que a água seja excessivamente fluoretada, ao se ingerirem esses fluoretos, pode dar origem ao desenvolvimento de fluorose. Em caso de suspeita devem ser efetuadas análises químicas à água.
Fonte: ABO – Associação Brasileira de Odontologia