A gravidez é um momento especial e de transformações no corpo da mulher. A partir do momento da concepção, todo o organismo feminino busca recursos para abrigar e nutrir a nova vida. A saúde vai exigir cuidado redobrado e deve fazer parte do pré-natal o acompanhamento odontológico. Problemas na boca interferem no bom funcionamento do organismo e também podem colocar em risco a gestação.
Estudo realizado em 2015 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), acompanhou 88 mulheres durante a gravidez, sendo detectado que 83% delas apresentaram no período algum problema periodontal, como inflamação ou infecção na gengiva. E o motivo para isso é que a mulher quando está grávida produz maior quantidade dos hormônios estrogênio e progesterona que irá para a placenta.
Nos tecidos periodontais, existem receptores específicos para os hormônios femininos. Com o aumento da taxa hormonal, começam a ocorrer mudanças como a vasodilatação e o aumento da resposta inflamatória. Além disso, os enjoos e vômitos frequentes aumentam a acidez bucal e favorecem o desenvolvimento de bactérias. Isso significa que a gravidez potencializa os problemas periodontais já existentes, mas não quer dizer que são causados pela a gestação.
“As doenças irão aparecer se a alimentação for ruim, a higiene inadequada, se houver acúmulo de placa ou tártaro nos dentes. Quando não cuidamos da gengivite no estado inicial, as bactérias tornam-se mais fortes e numerosas e conseguem se infiltrar além da gengiva, vão para o osso e ligamentos que sustentam os dentes, causando a periodontite”, explica a diretora de promoção da saúde da ABO Nacional, odontopediatra e especialista em Ortopedia Funcional dos maxilares, Amélia Mamede.
“A medicina desenvolveu pesquisas comprovando que os focos de infecção de origem odontológica, principalmente a periodontite, podem aumentar as chances de parto prematuro e nascimento de crianças com baixo peso. O corpo humano é inteligente e a sua maior preocupação no momento da gestação é salvar a vida. A gravidez é toda regulada por hormônios e sinais químicos produzidos pelo corpo da mãe. Qualquer infecção ou inflamação pode causar alteração hormonal. O corpo, para defender o bebê, induzirá ao nascimento prematuro e por consequência o baixo peso”, explica Amélia.
Estar bem informada sobre a própria saúde bucal e como isso interfere na gestação e na dentição do bebê é o ideal, pois a preocupação com a saúde dos dentinhos da criança deve começar quando ela ainda está no ventre da mãe. É a partir da sexta semana gestacional e quarto mês de vida intrauterina que a dentição e o paladar começam a se desenvolver. Por isso, são nessas fases que a mãe determina o comportamento que o filho terá no futuro. A formação e desenvolvimento dependem de fatores externos relacionados à gestante.
Carência nutricional, infecções e algumas medicações podem influenciar para uma má formação e mineralização dos dentes. O cálcio e o fósforo são fornecidos ao bebê pela alimentação da mãe e não retirados de seus dentes e ossos. E para suprir as necessidades do feto, a grávida deve optar por alimentos ricos nestes minerais como queijo, leite e peixe. Assim, uma dieta equilibrada – rica em fósforo, cálcio e vitaminas A, C e D – nutre o bebê e proporciona um desenvolvimento saudável.
“Em uma gravidez planejada, a mulher realiza inúmeros exames para saber se está apta para uma gestação saudável, sendo que a visita ao odontologista também deve fazer parte dessa rotina. Adotar essa prática evita complicação em um momento tão especial da vida feminina. A periodontite na gestação é um assunto muito sério, que deve ser discutido em consultório. E, após a gestação, é imprescindível que o acompanhamento odontológico permaneça, o que deve ser estendido também ao bebê”, orienta Amélia Mamede.
Fonte: Jornal da ABO, ed. 163